Há dez anos, artistas da cidade de São Sebastião, há 30 km de Brasília, iniciavam um movimento poético e artístico que seria capaz de mudar vidas de muitos jovens, adolescentes e crianças numa cidade aturdida pela violência entre gangues, falta de políticas públicas e espaços para fruição da arte. No próximo domingo, dia 24 de março, no Aquário Bar, avenida Central, de São Sebastião, a partir das 16h, o grupo Radicais Livres S/A comemora dez anos de muita agitação artística e produção cultural no Sarau Radical que marca a própria história do grupo.
Os poetas, atores, músicos, artistas plásticos e tantos outros que já realizaram e participaram de mais de 200 saraus na carreira, comemoram com participação de vários grupos poéticos do DF como Tribo das Artes, Coletivo Palavra e artistas da própria São Sebastião, reunidos num sarau multimídia, com entrada franca para a comunidade.
Para eles, a vitória reside em não terem desistido mesmo diante de inúmeras dificuldades financeiras, e aidna hoje manterem projetos gratuitas para a comunidade como o Cineclube Radical, realizado nas escolas de São Sebastião, o Sarau Radical, a Feira do Troca e as constantes apresentações de vários artistas locais em espetáculos espalhados pelo DF.
Do amador ao profissional
A mobilização iniciada pelos artistas teve como principal motivo a falta de espaços para fruição de arte. Era unânime a repetição dos mesmos estilos de música nos palcos da comunidade, além da inexistência de teatros ou cinemas. Buscando visibilidade para sua arte e espaço para amadores, o Sarau Radical abriu espaço para o grupo de estudantes do Centro Educacional 01 da cidade, que acharam nos Espaços Livres de Poesia a oportunidade para expressar suas angústias e mudar vidas. Como o poeta Diogo Ramalho, que sofria de depressão e venceu a doença pela força da literatura, vencendo a timidez nos palcos. Assim como ele, boa parte daquela geração achou no evento um espaço de experimentação artística, abrindo espaço para a participação da comunidade e seus artistas. Hoje Diogo é responsável pelo grupo litero-musical Levante Poético, que se apresenta na programação. Diogo chegou a realizar até mesmo saraus no Piauí e manteve correspondência literária com suplementos culturais locais, assim como ainda hoje colabora com o funzine do Radicias, o Radical News.
Autoestima da comunidade
Um dos principais avanços do grupo foi o fortalecimento da autoestima da comunidade, que passou a se enxergar nas páginas de jornais como cidade celeiro de arte, construção positiva, além das páginas policiais ou de problemas sanitários, como a Dengue ou Hantavirose que abalaram sua população nos idos de 2003, 2004, época da formação do grupo.
Além dos amadores, o Sarau Radical já teve em suas programações grandes artistas como Nicolas Behr, Gog, Elen Oléria, Célia Porto e Banda Trampa, todos participando voluntariamente para disseminar arte na periferia. Para Gog, considerado poeta do rap nacional, a existência do grupo é uma vitória em si, confirmando uma tendência de fortalecimento na cultura nas periferias. “Essa galera nos mantém animados para a luta, tudo faz mais sentido”, afirmou o artista que já tocou em pelo menos três edições de Saraus radicais.
Trajetória e grandes espetáculos
Hoje o grupo é organizado por cerca de 15 voluntários que se organizam em torno da produção dos saraus, com periodicidade bimestral, mas que foram mensais até 2011, quando o grupo teve de reavaliar essa possibilidade, mais uma vez por dificuldade de recursos. Grandes intervenções também marcam a carreira do coletivo como participações em três edições da Feira do Livro de Brasília, Semana de Arte Moderna da Periferia (São Paulo, 2007), além da produção e coordenação da participação da parte de poesia do aniversário alternativo de Brasília, O Brasília Outros 50. No festival, os poetas radicais livres como Karla Ramalho, Thiago Alexander, Diogo Ramalho, Saulo Madrigal, Vinicius Borba, Renato Hally e Mardon Melo se uniram a outros grandes nomes como Nicolas Behr, Jorge Amâncio e Ruiter Lima e outros 20 poetas dos vários saraus do DF levando poesia ao Brasília Outros 50.
Para Vinicius Borba, produtor do grupo, esse momento foi um ponto alto para a construção de autoestima de toda sua comunidade. “Foi quando pela primeira vez chegamos aos palcos grandes da capital, cruzamos a ponte para ser aplaudidos pelo grande público, sendo respeitados pela nossa qualidade artística”, afirmou Vinicius. O grupo também já levou inúmeras oficinas de arte tanto para São Sebastião, quanto para o Itapoã, onde mantiveram projetos sociais envolvendo Hip Hop, literatura e teatro.
O Sarau Radical 10 anos
Nesta programação, o grupo reúne poetas e os grupos que fazem parte de sua trajetória, especialmente o Sarau que inspirou a criação do Sarau Radical, o Sarau da Tribo das Artes, Grupo Poeme-se, Nicolas Behr, Vanderlei Costa, Coletivo Palavra e tantos outros. Além deles, dentre as bandas convidadas para apresentações estão Máximo Mansur, um dos fundadores do grupo, na casa do qual ocorreu o primeiro Sarau Radical, as bandas dos também membros do Radicais Livres S/A, Levante Poético e Calango Rasta, e as convidadas Conselho de Malucos, Dona Gracinha e projeção com o Coletivo Palavra e Furiosa Bateria de Sucata.
Ecologia e feminismo
Antes do Sarau, abrindo as atividades, ocorre a oficina da Fuzarca, organizada com apoio da Marcha Mundial das Mulheres, além da 3ª Feira do Troca dos Radicais Livres S/A, espaço onde a comunidade é convidada a trocar objetos usados, desde que limpos e em bom estado de conservação. Também participa da Feira do Troca do projeto Bagagem Cultural, que traz livros para trocas no espaço.
Serviço
Local: Aquário Bar
Endereço: Avenida Central, nº 260 bairro S.José S. Sebastião
Quando: 24/03
Horário: Domingo, 16h
Preço: franca
Classificação Indicativa: 16 anos
Informações: (61) 85511075/ 3339 0782
Começa na segunda-feira (14) e vai até o dia 19 a Semana Lago Limpo, ação anual em que serão retirados lixo e objetos jogados indevidamente no Lago Paranoá. A programação, organizada pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), inclui ainda a identificação de captações irregulares.
